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3 de abril de 2009

São 09:00 e cheira a coisas podres no autocarro

Eu sei que não se pode obrigar as pessoas a tomar banho, mas há coisas que saltam à vista. Devia ser obrigatório passar por um detector de maus-cheiros antes de subir o degrau do autocarro. Por favor! Como é que querem incentivar o uso dos transportes públicos se nos arriscamos a ter uma coisinha má por inalação de gases tóxicos? Como é que é possível cheirar tanto a azedo às nove da manhã? E a guisado?! E a podre?!
Peço encarecidamente à Carris que ponha umas coisas, uns brises, umas velas de cheiro sei lá, qualquer coisinha que mantenha o ambiente do autocarro ao nível da decência.

27 de março de 2009

Tirem os carros dos passeios!



Uma iniciativa à qual vou aderir ferozmente! É imprimir a imagem e fazer autocolantes. Cola-se na janela do carro que estiver a impedir a circulação dos peões, estacionado em cima de uma passadeira por ex.
Funciona como "multa" ao egoísmo daqueles que só pensam nos seus umbigos. O blog chama-se "Quero andar a pé! Posso?", uma boa razão mas há muitas outras, normalmente esquecidas: as pessoas que se deslocam em cadeiras de rodas por exemplo. Já vi, é aflitivo e revoltante não conseguir sair de casa porque alguem decidiu que ali era um bom lugar para estacionar...duh!

Temos direito à "acção popular" prevista pela Constituição para promover a qualidade de vida e a preservação do ambiente e do património, por ex a calçada portuguesa que não resiste a tanta pneuzada!

aqui fica o link para enviarem as provas do crime.

17 de dezembro de 2008

Crime: Astúcia


Como a coisa não foi violenta, antes caricata e astuciosa, como até a PSP achou que foi, o único dano a declarar é ter menos 60 euros na conta. Dirão vocês, oh deixa lá, mais do que isso rouba-te o banco todos os meses. Sim, é verdade. No entanto, este “furto simples” como o qualifica o nosso Código Penal, é tudo menos simples. Ao ponto de o agente da PSP que me aceitou a queixa dizer em voz alta que a Polícia e a Justiça estão de mãos atadas em casos como este. A culpa, disse ele, é da lei portuguesa, que “dá tantos direitos” aos suspeitos/detidos/arguidos e poucos às vítimas. A coisa passou-se em segundos. No instante em que as notas saíam da caixa multibanco, fui rodeada por duas raparigas que puseram duas pastas pretas à frente dos meus olhos e se piraram no momento seguinte. Registei no cérebro que as folhas por cima das pastas diziam “surdos-mudos”. Lá fugiram, dobraram a esquina comigo atrás delas sem resultados. Atrás daquele ATM um quiosque, a Rua Pascoal de Melo cheia de gente. Depois, na Polícia, depois da queixa, o agente Nica pergunta se eu quero apresentar queixa-crime. Então não quero?! Mas não é crime?! Duh!
Explica-se o chefe Nica: O que se passa é que as moças que me assaltaram foram trazidas para Portugal por “máfias provavelmente de países do Leste, sobretudo da Roménia”. Ganham “uma percentagem mínima” do que roubarem. Não falam português, “são sempre menores de 16 anos muitas vezes menores de 14 anos”, nunca têm documentos, nunca falam e não é porque que sejam surdas-mudas porque não são. Nunca assaltam duas vezes no mesmo sítio, nunca repetem a vítima, nunca são os mesmos a roubar. De acordo com o chefe Nica, quando a investigação chega a algum dos jovens larápios, se são menores, não podem ser identificados pela vítima. Não podem ser detidos. Nunca sabem quem é o “patrão”. Por outro lado, se são apanhadas, quando são soltas “apanham porrada” do patrão. Conclusão do agente Nica: “é impossível chegar às máfias”. Mas, se por uma sorte se chega às máfias, “eles aparecem com advogados de referência nos tribunais” e “ganham tudo, pagam e no outro dia estão cá fora”.
Neste ponto do relato do chefe Nica, já eu estava quase a chorar com pena das miúdas traficadas e de bom grado lhes daria 60 euros sem me queixar. Bastaria que elas próprias, ao invés de se fingirem de surdas-mudas, me contassem esta história da carochinha.
Nisto tudo, o que me revolta mais é isto: a resignação de um jovem agente da PSP, que antes de dar luta já se rendeu. Só a falta de imaginação e de vontade é que pode explicar que um agente da PSP ou qualquer um se refugie em supostos “buracos” na lei portuguesa para baixar os braços. Percebo a perspectiva pragmática da coisa do ponto de vista de um polícia, mas faz-me mesmo confusão que seja tão resignado o discurso de um jovem agente com menos de 30 anos que francamente (e, para ser justa, porque lhe pedi opinião) aconselha as vítimas a calarem a queixa para não se chatearem e porque não vale a pena.
Eu lá pedi desculpa por dar tanto trabalho e por contribuir para o entupimento dos tribunais. É que até o cenário que enquadrou a minha participação era elucidativo: Depois de esperar 40 minutos para ser atendida (apanhei a mudança de turno), reparei num cartaz sobre um curso de polícia: Onde se lia “por nós, muito, entre nós, muito. Pelos outros, tudo”, passou a ler-se, graças à acção expedita da caneta de um insatisfeito agente policial: “por nós, nada, entre nós, nada”. Já estou como o velho Sampas, que gente de lamúria e de braços caídos!

12 de novembro de 2008

Paulo Bobão, o arrumador anfitrião

Sem querer ofender o arrumador, acho que assenta que nem uma luva o nome que lhe botei, inspirado na Bobone dos manuais de "etiqueta e boas maneiras".
É que estava eu sentada na paragem do autocarro à seca e resolvi espreitar um saco meio aberto de onde vinha um intenso cheiro a castanhas.
"Estaria abandonado? E que será aquilo verde? Uma garrafa? Alguem que se esqueceu? Mas não tem ar disso, está aberto..patati, patata", assim vaguearam os meus pensamentos enquanto esperava pelo 6. No minuto a seguir, aparece-me de rompante este arrumador, que se apresenta:

- Minha senhora, sou o arrumador desta rua, esteja à sua vontade, disse o homem barbudo, cruzando os braços e olhando pra mim, como se estivesse à espera de alguma coisa.
- ?! (cara de espanto)
- São castanhas cozidas, estão muito boas, faz favor de se servir.
- Obrigada, mas eu...(mais espanto e algum, confesso, constrangimento)
- Não faça cerimónia, por amor de deus. Fui buscá-las há pouco e estão ainda quentes. Eu reparei que a senhora lhes sentiu o cheiro. (Aqui, corei de vergonha)
- A senhora com toda a certeza é nova nesta zona, porque é a primeira vez que tenho a honra de a ver. Eu sou o arrumador desta rua, e guardo aqui o meu comer.
(Nisto faz um pequeno e delicado gesto e aponta para o tecto da paragem. Realmente, cabeça no ar que eu sou, não tinha visto o cartaz cuja mensagem, literal, dizia: "Não mexer. Comer do arrumador".

Perante aquela evidência, eu era intrusa em casa alheia e pedi mil desculpas e disse "não reparei, realmente moro aqui há pouco tempo, não sabia" e já me levantava quando:
- Não, não se vá embora por minha causa! Era o que faltava, não se assuste comigo, eu sou só o arrumador desta rua. Por favor, sirva-se das castanhas e fique o tempo que quiser. Olhe, eu tenho que ir arrumar carros e vim aqui só para beber uma pinguinha, mas fique à sua vontade". Tirou a garrafa do saco, e com mais uns salamaleques, o arrumador voltou ao serviço.
Eu ainda estava meio atarantada, porque aquilo me pareceu tudo muito doido, mas continuei à espera do autocarro. Entretanto achei estranho ninguem ir para a paragem e resolvi inspeccionar.
Resultado, trata-se uma paragem antiga, desactivada. Quem lhe dá uso é só mesmo o arrumador da Rua Pascoal de Melo, que ali guarda o seu comer (vide cartaz) durante o dia.
Ora, depois de saber isto, já não posso estranhar a atitude do Paulo Bobão, o arrumador anfitrião.
Quando alguém vai a minha casa, eu também digo para estarem à vontade, para ficarem o tempo que quiserem e para se servirem sem cerimónias!

17 de março de 2008

Eu vi um sapo, com um guardanapo...

Não sei nada da história do Mário a não ser o que nos contou a D. Lurdes, da mercearia da Gomes Freire. Já o tinha visto andando desacertado em várias ruas da zona, a várias horas do dia e a da noite. Sei que a bebedeira é um estado habitual do Mário, um alcoólico que se confunde com um sem-abrigo. Vi-o a rir à maluca frente ao carro que o ia atropelando e vi como gritava e ria no meio da estrada no Conde Redondo com um pacote de vinho na mão. Sei que ele fala a gritar com quem passa no passeio onde estiver. Uma vez ouvi-o gritar umas coisas em inglês a umas estrangeiras que iam a passar e lembro-me de ter pensado que ele tinha muita graça. Mas o Mário não é um sem-abrigo. A acreditar na história que nos contou a D. Lurdes, o rapaz chegou a ser um matemático brilhante. Era professor no Liceu Camões, bem perto da casa onde mora, na Duque de Loulé. A D. Lurdes contou-nos isto e mais algumas coisas no sábado passado. Era meio-dia e a rua estava finalmente calma depois da azáfama da manhã. Poucos carros, pouca gente, o quiosque às moscas, as lojas a fechar. Eu estava à entrada da mercearia, e o Mário encostado à parede uns dez metros mais adiante. Fora da loja, uma senhora baixou-se para escolher umas tangerinas do caixote da fruta rente ao chão. E o Mário acompanhou-lhe o movimento com a cabeça, espreitando, divertido, o decote da senhora.
Já dentro da loja, a senhora, eu e mais uma rapariga esperávamos a nossa vez quando da rua pacífica vieram uns gritos surpreendentes: O Mário cantava o “Eu vi um sapo” mas com uma letra adaptada:
- “EU VI-TE AS MAMAS, EU VI-TE AS MAMAS, EU VI-TE AS MAMAS, EU VI-TE AS MAMAS!, taratari, taratari, tiri, tiri..”
Imaginem isto cantado com a música do “Eu vi um sapo” que agora faz PUB à Internet. Claro, rimos à gargalhada e eu reparei que a senhora corou um pouco, afinal também percebeu o movimento atrevido do Mário junto aos caixotes da fruta.
Olhámos lá para fora, menos a D. Lurdes, que mordia o lábio para não se rir, e lá estava ele, completamente feliz a cantar e a dançar no passeio. Parava um pouco para se rir à gargalhada e voltava ao mesmo. A D. Lurdes, afinal vizinha de longa data do homem, e amiga dos pais, sentiu-se na necessidade de justificar a loucura do rapaz e fez o diagnóstico: “Uma mente brilhante que um dia terá tido um esgotamento nervoso que não foi bem acompanhado e deu nisto”. Parece que ele começou aos poucos a deixar de se interessar pelo trabalho, pelos alunos, e acabou por se apaixonar pelo vinho e a abandonar a higiene por completo. Às vezes o irmão vem ter com ele e leva-o para casa, dá-lhe banho, corta-lhe o cabelo e veste-lhe roupa lavada. Mas o mais estranho do caso do Mário, interroga-se a D. Lurdes, é que quando um antigo colega, também matemático de renome, o vem procurar, súbitas mudanças acontecem.
- “Chegam a ter grandes conversas, o Mário e colega. Quando o amigo vem, ele muda por completo, endireita-se todo e fala normalmente com ele, como se não tivesse bebido, sobre as coisas no Liceu, sobre o mundo e discutem sobre as coisas deles como se o rapaz nunca estivesse estado neste estado”, admira-se a D. Lurdes com um certo respeito no tom de voz…
Olhámos lá para fora e vimos o homem tão descontraído na sua cantiga a apanhar sol a dançar pelo passeio que concluímos que talvez o Mário não se tenha perdido mas, ao contrário, achado, a certa altura da vida.

26 de outubro de 2007

Um sem-abrigo com consciência ecológica

Não era um pedinte qualquer. Aliás, nem sequer era um pedinte. Era um cidadão com consciência ecológica. Sentado no chão, na Rua Garret, no Chiado, o rapaz recortava com mão certeira latas de coca-cola, fanta, sumol, em engenhosas cadeirinhas e bem intrincados cinzeiros. Tinha escrito com caneta de feltro num bocado de cartão “Não se esqueça, recicle” e outra frase qualquer sobre o ambiente ou o aquecimento global.
- Quanto é que é? perguntei, divertida.
- Não é nada, isto é só mais para alertar… a ..a..consciência das pessoas.
- Ai é?, franzi o sobrolho, como quem diz, “hum…tem a certeza? Então não quer nada?”
- Oh, só se quiser dar uma contribuiçãozinha, é o que quiser, isto não vale nada…é a mensagem pela mensagem.
Como um sem-abrigo com miolos já não é um pedinte por muito sujinho que esteja e por muito arrastada que seja a voz de coitadinho, dei-lhe um euro por um cinzeiro novinho em folha. Quer dizer…novo não é, mas “o que importa é a mensagem pela mensagem”!