Aquelas velhas já foram como eu
E pensar nisso
Não alivia a sensação de repulsa
Que a vista das suas pernas deformadas me provoca.
Não é a celulite que me incomoda
Nem tão pouco os seus poucos cabelos brancos
São velhas recém operadas
Algumas andam tortas
As suas mãos são nodosas e manchadas
Os seus cabelos são pintados ou branco-lilás.
Demoram-se no vestiário e na casa de banho
E exalam um insistente cheiro a pó-de-arroz.
A sua voz é fina como um fio de nylon
Das suas meias de descanso.
As velhas têm muitas queixas para fazer
E fazem-nas entre dentes ou em alta voz.
Mas são as silenciosas que me assustam
Murmuram bons-dias com bocas desconfiadas
E olhos inchados de solidões mal dormidas
Tratam-se por doutoras e senhoras ou meninas
E nunca riem.
No ginásio receitado pela fisioterapeuta
As velhas mancam, quase todas.
Às vezes há uma velha que parece mais nova
Chegou aos 76 com poucas rugas na cabeça.
Com ar de quem tem pressa,
Conta que o filho vai hoje lá a casa
E que na praça já não havia peixe
E que teve pena porque “o miúdo” gosta de peixe.
Se alguém tinha visto o “Goucha” ontem
Que lhe deu vontade de rir, o “malandro”
Confessou-me, entre risos, que nunca foi ao cabeleireiro
E que o segredo dos seus caracóis perfeitos
É um preparado de cerveja preta, aplicado de manhã (!)
A mais velha das mais velhas
Ostenta que vive!
Incomoda-me vir a ter as costas deformadas
Mas o que eu queria
Era ser uma velha sem rugas na cabeça.
2 comentários:
da próxima quero um touring pormenorizado no dia das trintonas
Não tenho medo de envelhecer, tenho sim é medo de chegar a velha sem lucidez e paz de espítito...
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